A construção civil é responsável pelo consumo de até 50% dos recursos naturais extraídos e de 40% de toda a energia produzida. Qual o desafio do engenheiro da atualidade? Como se disciplinar para empregar técnicas e materiais mais sustentáveis desde a elaboração do projeto à sua especificação e instalação?
Para se ter uma ideia, informações da Comunidade Europeia, divulgadas pela Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica (Anab), revelam alguns dos impactos das atividades da construção civil no meio ambiente e, consequentemente, na qualidade de vida da população, entre eles, poluição urbana, emprego de produtos cada vez mais sintéticos à base de substâncias petroquímicas tóxicas; uso exorbitante dos recursos naturais, como água e derivados de petróleo; consumo maciço de energia de origem fóssil; e poluição atmosférica com consequências para o efeito estufa.
No Brasil, o cenário não é diferente. A construção civil é responsável pelo consumo de 40% dos recursos naturais, de 50% da energia elétrica, de 55% de toda a madeira produzida não certificada, por 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos e por 50% do volume total de resíduos produzido.
Tendo em vista estes dados, fica evidente que as decisões tomadas pela cadeia da construção, envolvendo engenharia civil, elétrica, hidráulica, arquitetura e automação devem ser mais criteriosas e apresentarem uma postura de responsabilidade ética sob o ponto de vista humano e ambiental.
Conforme manifesta a Anab em um dos artigos publicados em sua página na internet, “construir de maneira sustentável impõe a todos os envolvidos, do projetista ao usuário, do administrador público ao empresário, do produtor ao varejista, um forte empenho ético e um profissionalismo adequado”.
Sobre esta temática trata a reportagem que se segue, que apurou que uma construção sustentável implica a adesão de comportamento, técnica e escolhas voltadas para as práticas sustentáveis e que devem passar por todas as fases do ambiente construído, desde o planejamento e elaboração do projeto até a sua construção, instalação e eventual demolição. Os engenheiros já estão inseridos nesta realidade e preparados para construir mais usando menos?
Construções sustentáveis
É ultrapassado dizer que sustentabilidade é uma tendência. A preocupação com processos e práticas sustentáveis é condição primordial para o desenvolvimento. E este conceito está cada vez mais presente no dia a dia de qualquer pessoa. Basta observar os novos hábitos da população, que está usando mais a bicicleta e as sacolas ecológicas. Além disso, os novos condomínios residenciais, ou mesmo comerciais, passaram a usar as características que priorizam a conservação ambiental como argumentos de venda. Muitos já utilizam aquecimento solar (inclusive, por força de Lei) e já existem, ainda que em pouca quantidade, projetos que preveem o uso de energia fotovoltaica e eólica e pontos para carregamento de veículos elétricos e híbridos.
Os novos edifícios já vêm se utilizando da tecnologia disponível e da mentalidade ecológica que aos poucos ganham todos os setores da economia para melhor utilizar a água, a energia elétrica, por meio de técnicas de tratamento da água ou de coleta da água da chuva, da instalação de aquecimento solar, do uso de geradores a gás natural, do aproveitamento da luz natural, entre outras medidas, como reciclagem do lixo e redução da emissão de gases de efeito estufa.
A construção sustentável dá seus primeiros passos no Brasil, mas, nos dias de hoje, especialistas entendem que esta é uma ferramenta que deve ser adotada por qualquer empresa que deseje continuar existindo. “Não haverá mais lugar para empresas poluentes, que degradam e exploram o meio ambiente, que não aperfeiçoam os seus fluxos de produção e que não oferecem condições de trabalho justas”, afirmou a arquiteta Daniela Corcuera em seu artigo “Produção de empreendimentos sustentáveis”.
Segundo a arquiteta, muitos construtores, engenheiros e arquitetos não entenderam que esta é uma necessidade do planeta e encaram o assunto como modismo, ficando à margem da sustentabilidade. “Muito provavelmente, construções sustentáveis não irão reverter de imediato os prejuízos causados pelo homem ao meio ambiente, mas contribuirão para não piorar o quadro. Construções sustentáveis dão aos seus usuários mais autonomia, pois não dependem tanto dos sistemas públicos de abastecimento de água e energia, não sobrecarregam estes sistemas e podem funcionar de forma autônoma, mesmo diante de uma pane na rede pública”, justifica.
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